Poucas expressões artísticas, no século 21, são mais radicalmente subversivas do que as viagens estéticas queer-punk de Virginie Despentes. Esta multi-artista, além de prolífica escritora, dotada d’uma prosa polêmica e neo-beatnik, é também uma cineasta transgressora. Conseguiu a proeza de ter seu filme de estréia, Baise Moi (2000), censurado em todo o território francês em 2000 (a primeira vez que isso ocorreu desde 1980).
Como ocorre às vezes, a censura instigou a curiosidade, o fruto proibido pareceu mais gostoso que os frutos lícitos, e eu quis baixar a versão pirata de Baise Moi para compreender os porquês da mordaça – ainda mais estranha considerando que os franceses costumam prezar pela liberdade de expressão de seus artistas.
Fui ao filme pensando, antes de seu início, sobre a censura ao cinema na França: filmes de Gaspar Noé ou Mathieu Kassovitz, dois cineastas que também adoram uma radicalidade expressiva e um extremismo fílmico, dois artistas enfant terribles que põe de cabelo em pé os guardiões da moral e dos bons costumes com filmes como Irreversível ou La Haine, puderam ter suas obras lançadas e comercializadas (apesar de “Rated R”). Por que permitir aqueles filmes extremos, mas proibir Baise Moi, condenando a obra de Virginie a ficar longe de todas as salas de cinema do país?
Uma análise “equilibrada” de Baise Moi é impossível: o filme foi feito em prol do desequilíbrio e da tensão exacerbada. Não foi feito pra deixar ninguém zen – quer nos puxar para o caos que pulsa em seu redemoinho fílmico. Baise Moi não está aí pra agradar o senso médio, mas sim pra causar, através de sua brutal provocação, o debate público sobre a violência nas “relações de gênero”.
Virginie Despentes o faz através de recursos nada delicados: é uma espécie de coquetel molotov simbólico que uma mina punk lança dentro da indústria cinematográfica pra ver o circo pegar fogo. Disposta a debater acaloradamente com machistas, misóginos e machos tóxicos sobre este seu Thelma & Louise versão lesbopunk.
Baise Moi traz algumas inovações a um cenário cinematográfico de ultraviolência hiper-disseminada: consegue destoar do “Tarantinismo” reinante. As razões para o horror que o filme despertou, a ponto da inédita censura vir amordaçá-lo, tem tudo a ver com questões de gênero: para além das cenas de sexo explícito, que a censura certamente classificou como pornografia indigna de estar no circuito comercial de cinema, há algo mais.
Estou convicto que Baise Moi foi censurado menos pelas cenas de sexo explícito e mais pelo retrato do feminino que foi julgado inaceitável. Não se pode, nem na arte, retratar mulheres assim! – diz o coro dos censores. O silenciamento do filme tem a ver com o poderio do conservadorismo e do patriarcado, é algo profundo e enraizado no âmbito da ideologia e do “inconsciente cultural”.
Esta tentativa de silenciamento da obra mostra a França institucional, aqueles que tem o capital e as terras herdados dos imperialistas escravocratas de outrora. Brutalidade contra mulheres são inúmeras na história desses defensores militares do Ancien Régime perpetuado. Mesmo quando se pretende revolucionária, esta França patriarcal / escravocrata trata as mulheres mal e porcamente, como fizeram os jacobinos ao decapitarem Olympe de Gouges.
Esta França censora-conservadora é como a sobrevivência hoje daquela parcela das elites do país que buscou se refugiar em Versalhes quando a Comuna em Paris triunfou. Elite ameaçada de ir parar na lata de lixo da História – e que depois afundou no sangue dos communards aquela revolução exterminada. Foi esta França elitista e tradicionalista, que massacrou os comuneiros, que não quis permitir nem sequer o retrato, mesmo no âmbito da ficção, de atitudes que não combinam em nada com aquilo que se concebe, a partir do viés patriarcal heterossexista dominante, como o dever-ser da feminilidade. O filme de Despentes encarna tudo o que as mulheres não podem ser, não devem ser, não se concebe que se deva permitir que se tornem…
Por este motivo, Baise Moi torna-se uma obra que desperta tanto interesse e inspira tantos dos escritos de Paul Breatriz Preciado, que em seu livro Testo Junkie (lançado no Brasil pela N-1 Edições), explora, como uma insider, a partir de suas vivências relacionais com Despentes, todo o contexto e todas as ressonâncias deste cuspe punk-feminista que Virginie Despentes lançou na cara da França careta.
O filme de estréia de Despentes é de fato um escarro. Mas não será necessário que a arte, vez ou outra, escarre na cara do opressor?!?
Arrisco-me a supor que Virginie Despentes não visou, com esta obra, a uma narrativa “realista”, ainda que seu jeito de filmar seja altamente crível, lembrando um pouco a estética de hibridismo entre ficção e documental que Larry Clark celebrizou em filmes como Kids ou Ken Park.
Em uma das cenas-chave de Baise Moi – lançado em inglês com o título Fuck Me, mas também com versões alternativas que o traduzem como Rape Me (um título de ressonâncias nirvânicas) -, vemos duas mulheres sendo estupradas com brutalidade por uma gangue de machos bastante violentos. Este gang bang, esta atrocidade cometida pelos machos contra as fêmeas, lança o filme num território de “bestialidade”, onde os seres humanos estão desumanizados pois parecem ter excluído de suas vidas a ética. Colapsou todo senso de altruísmo – o corpo das mulheres, para os estuprados, é quase como uma boneca inflável, objeto a ser usufruído e logo descartado. Foi esta a atitude dos machos escrotos que Kurt Cobain ironizou com toda sua verve satírica grungy:
A analogia com Thelma & Louise se impõe: no clássico filme dirigido por Ridley Scott, as protagonistas do road movie, interpretadas por Susan Sarandon e Geena Davis, atravessam os EUA tentando chegar à fronteira e sair do país. Elas fogem em alta velocidade pelas estradas, num Easy Rider de saias, após uma delas ter assassinado o estuprador que tentava violar sua amiga.
Nunca me esqueço de uma ocasião em que passei o filme em sala-de-aula para debater questões relacionadas à filosofia, em especial o tema das decisões que somos obrigados a fazer em situações-limite (tema caro aos existencialistas e originado em Karl Jaspers). Queria levá-los a refletir que há situações que não escolhemos que nos impõe a escolha – situações em que estamos “condenados à liberdade” (Sartre). Thelma & Louise, na primeira vez em que o exibi, arrancou lágrimas da Lua Plaza, então uma adolescente duns 17 anos dotada de muitos talentos artísticos para o desenho e a escritura, que ficou chocada com a cena em que o estuprador recebia o pagamento por sua tentativa de sexo não-consentido na forma de balas letais.
As lágrimas de Lua me convenceram não só da potência comotiva do filme, mas também de algo que subjaz à vivência feminina contemporânea, e que nós homens às vezes temos dificuldade de acessar e compreender: trata-se de uma espécie de ódio ao estuprador que se transforma numa vontade irreprimível de destruição do outro, percebido como um violador que precisa ser parado custe o que custar, numa versão feminista do mote Black Power que Malcolm X repetia: livrar-se da opressão by all means necessary. É este tema rubro – pois encharcado de sangue, e não exatamente do menstrual… – que une Thelma& Louise de Baise Moi.
Virginie Despentes quer encarar o debate da violência feminina legítima. Quer explorar o que ocorre quando a mulher violentada, ao invés de ser servil e dócil, decide pagar na mesma moeda ao violentador. A violência armada feminina, reativa contra o macho violento que impera, torna-se em ambos os filmes uma maquinaria trágica que arrasta tudo pra casa do caralho. Máquinas de produção de catástrofes em série, Thelma & Louise e Baise Moi não vendem retratos róseos da mulher quando adere à violência assassina – tema de outro filme essencial para este debate, Monster.
Em Monster – no Brasil, batizado também de Desejo Assassino – o casal lésbico central (interpretado por Charlize Theron e Christina Ricci) entra na espiral disruptiva quando a personagem de Theron começa sua carreira como serial killer de homens. Seu trampo no ramo do comércio sexual de seu corpo cotidianamente violentado-violado a conduz a tornar-se, na situação em que foi jogada, aquela que “escolhe” assassinar aquelas que seu ódio enxerga como violadores e opressores. A interpretação, que rendeu um Oscar de Melhor Atriz a Theron, aborda a mesma constelação interrogativa de Thelma & Louise e de Baise Moi: quando é justo e legítimo que a mulher mate seu agressor? Deve ser condenada à morte uma mulher que cometa o assassínio de um cônjuge no processo de defender-se d’um feminicídio?
O que me interessava questionar, em diálogo com os alunos, após a experiência compartilhada de assistirmos a filmes como Thelma & Louise, era o seguinte: aquela mulher que tinha atirado contra o estuprador de sua amiga havia agido corretamente? Quais as consequências que decorreram daquilo? Como foi a vida destas mulheres após cometerem aqueles crimes?
Não foram poucas as adolescentes e jovens mulheres que, identificando-se com as personagens, aplaudiram o ato homicida retratado em Thelma e Louise, celebrando-o com frases como: “Fizeram bem! Agora tem um estuprador a menos no mundo!” Ao que eu me sentia compelido a responder interrogando: “Sem dúvida, há um estuprador a menos no mundo, mas não é verdade que também há no mundo uma assassina a mais?”
As duas protagonistas do filme de Despentes, Nadine e Manu (interpretadas por Karen Bach e Raffaela Anderson), cansadas de serem abusadas, seja como vítimas de gang-rape, seja como profissionais do sexo maltratradas por seus clientes, acabam embarcando numa espiral sem fim de violência vingativa. Elas desceu ao abismo do niilismo, da destrutividade gratuita.
O filme é a crônica serelepe e ultraviolenta d’uma killing spree. Mostra o modo como as assassinas vão progressivamente saindo cada vez mais radicalmente do âmbito da normalidade, tornando-se criminosas procuradas (e temidas) em todo o país. Assim, Baise Moi se filia a uma certa “tradição” de filmes B, considerados por críticos sérios e historiadores da arte como “trasheiras” – e que falam sobre a vingança feminina contra abusadores e “machos tóxicos”. Os “clássicos” do gênero são Nascidas em Chamas de Lizzie Borden (1983) e A Gun For Jennifer de Todd Morris (1997). Neste último, a divulgação mercadológica fez apelo ao slogan bastante significativa: dead men don’t rape.
Estupradores mortos de fato nunca voltarão a estuprar, mas isto justifica moralmente os atos de mulheres que assassinam? A violência feminina em ato, e não apenas restrita ao imaginário, é o tema destes filmes, e é por isso que eles põe o Patriarcado com os cabelos em pé. Despentes cuspiu, através de Baise Moi, na cara pálida desta Sociedade do Espetáculo dominada por homens brancos e ricos. Quis jogar na cara dos magnatas midiáticos um pouco do sabor, a que eles nos expõe cotidianamente, do terrorismo simbólico.
Aquela que foi Beatriz e hoje é Paul Preciado dedica a Baise Moi algumas páginas interessantes do avassalador Testo Junkie, destacando porquê este filme e livro tiveram o impacto de um ter remoto no âmbito da cultura feminista e queer da França, onde os livros de Despentes também são muito lidos e debatidos – tanto os romances quanto os livros de intervenção sócio-cultural (como Teoria King Kong).
Já “Bye Bye Blondie”, o segundo filme de Despentes, tem outra vibe e expande a paleta expressiva da artista para novos setores, dialogando com a contracultura queer e punk através de um outro casal lésbico, com travessia e destino bem menos trágicos e sangrentos do que as meninas de Baise Moi.
“Bye Bye Blondie” presta tributo aos amores estranhos e aos artistas esquisitões, celebrando o amor lésbico fora-da-caixinha ao som da fina flor sônica da contracultura. Um exemplo é a banda punk francesa Bérurier Noir, vulgo Beru, fundada em Paris no ano de 1983, que tem uma notável canção: “Vivre Libre Ou Morir” (“Viver Livre Ou Morrer”), sonzeira do álbum “Concerto pour Détraqués” (1985). Sua mensagem prossegue atual 35 anos depois da gravação. A letra questiona as determinações sociais da criminalidade juvenil e as violências estruturais que empurram para as margens uma classe de jovens que tornam-se “enragés” (enfurecidos).
No filme de Virginie Despentes, “Bye Bye Blondie” (2012) – que ela adaptou para o cinema partindo de seu próprio romance, como havia feito antes com “Baise-Moi” -, o destino da personagem Gloria está umbilicalmente conectado a esta música e às revoluções comportamentais propostas pelo “Beru”.
Presa no hospício, por ordem dos pais – em enredo lembra muito semelhante ao “Bicho de Sete Cabeças” de Laís Bodansky -, Gloria é censurada pela equipe do hospital-prisão psiquiátrica quando tenta ouvir e cantar junto com o som do Bérurier Noir. A música punk é censurada no hospício.
Mas a banda predileta de Gloria irá ajudar a sedimentar uma amizade entre as oprimidas que é, no caso, semente de revolução. A contestação estética, compartilhada, torna-se cimento social que une forças insurgentes e transformadores.
Diante do psiquiatra que quer mantê-la encarcerada no regime disciplinar militarista do hospício, Gloria – com seu look de Patti Smith adolescente – afirma ser uma punk e não ver razão para estar encarcerada por conta de comportamentos que destoam da norma social. Mas, aos olhos dos caretas, qualquer comportamento queer (como são as atitudes punk) é enquadrável como criminoso, perigoso, exterminável – e dá-lhe sossega-leão, camisa-de-força, pílulas e lobotomias pra juventude voltar a ser dócil e submissa!
VIVRE LIBRE OU MORIR
À l’âge de douze ans, ils t’ont qualifié
d’enfant délinquant, petit meurtrier
et à quatorze ans, de psychopathe grave
et d’adolescent irrécupérable,
et à dix-sept ans, t’étais alcoolique
en camp d’redress’ment et les coups de triques
et à dix-huit ans, tu as fait l’armée,
chez les délinquants, tu as déserté.
Lalalalalala
Lalalalala (x2)
Service militaire, camp disciplinaire,
prison psychiatrique, Orange Mécanique,
à l’âge de vingt-ans, t’es devenu violent,
t’as pris les devants, il y a eu du sang,
ils t’on envoyé au pénitencier
au lieu d’écouter, au lieu de t’aider,
quand tu sortiras, y’aura rien pour toi,
tu recommenceras car telle est la loi.
Lalalalalala
Lalalalala (x2)
Et quel futur pour les petits durs?
Et quel futur entre quatre murs?
Et quelle société pour les enragés?
Et quelle société pour les gueules cassées?
Et quelle société pour les têtes brulées,
pour les agités, pour les pieds nickelés?
Et quelle société pour les Béruriers,
pour les défoncés, pour les détraqués?
O feminismo de Despentes nada tem de moralista – se Baise Moi chega a lembrar a obra do Marquês de Sade, com seu retrato do completo imoralismo das moças em sua killing spree, em Bye Bye Blondie a vibe é muito próxima do Gay Pride, celebra-se o amor lésbico que afronta a caretice reinante, rompendo com a lógica do hospício confinante e normalizador, do matrimônio hetero indissolúvel, rumo à recriação das formas de amar que culmina num amor lésbico que se ostenta – e que se fodam as fofocas e o sensacionalismo da imprensa!
Em seu terceiro filme, a cineasta partiu para o documentário: Mutantes – Feminismo Pornô Punk. Despentes não se alinha às feministas anti-pornografia, que acusam o Patriarcado de objetificar o corpo nu da mulher sempre que seios ou bundas despontam na tela. O doc já começa com corpos nus em situações inusitadas – no caso, um ser humano peladão que destroça um teclado de computador contra o chão.
No filme pulsa perigosamente uma espécie de coletânea de performances que quebram todos os moldes do binarismo de gênero. Quebram também os preconceitos sobre o que é o feminismo – na verdade, há feminismos (no plural) e eles constituem vertentes que, somadas, compõe um todo complexo, cheio de tensões internas e discórdias entre correntes. Despentes alinha-se à corrente punk-pornô de feminismo queer.
Para um brasileiro, é inevitável que a palavra Mutantes remeta-nos a uma das maiores bandas de nossa história, e o título do filme de Despentes acaba sendo uma homenagem inviesada a um certo ethos anti-normose, de excentricidade afirmada, que marcou a trupe composta, inicialmente, por Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias (sob a regência de maestro Duprat).
Somos corpos mutantes, metamorfoses ambulantes, e o tal do féminisme porno punk que Virginie Despentes propõe quer romper estátuas a golpes de imagens provocativas às torrentes. Para que nossas identidades fluam e nossas interações se vejam livres das gaiolas costumeiras.
Por isso a importância de se abrir a esta obra – e se deixar provocar por ela. Ao romper da aurora da década nova (2020 – 2029), percebe-se a forte presença de um conservadorismo moral que se manifesta com brutalidade, propondo a manutenção estacionária do status quo vigente, ou seja, da dominação patriarcal e etnocêntrica que impõe o binarismo de gênero, a heterossexualidade compulsória, a limitação do sexo à procriação, a homofobia e a transfobia, as violências homicidas do feminicídio, dentre outros males. Por que, pergunta-se Virginie Despentes, corpos nus seriam inimigos da revolução que trará um mundo melhor?
Pensemos nos hippies peladões em Woodstock: aquilo atrapalhava ou ajudava o advento de uma nova era, “The Age of Aquarius”? Se perguntados, os hippies diriam que o fato de estarem nus, banhando-se num rio da zona rural de Nova Yorke, engolindo cogus alucinógenos ou dropando ácido lisérgico, era uma jornada coletiva de reconexão com a Terra, com o Cosmos, com o que mais importa…
Hoje em dia, se formos procurar os neo-hippies dos EUA contemporâneo, encontraremos coisas como o movimento ecosex, inspirado em Annie Sprinkle, que segue a espiritualidade Wicca, apegados a um paganismo animista-hedonista, que prega a salvação pela via da erotização dos encontros de corpos humanos com os elementos naturais.
ECOSEX – POR AMOR AO PLANETA
Estes neo-hippies propõe que a cura para a humanidade doente passa pelo processo de dançar peladão na floresta como quem fodesse gostoso com os ventos. Fazer de seu corpo deitado nas areias de uma praia o campo de contato orgástico que faz com que cada poro de pele em contato com o grão de areia possa gozar com a dádiva de estar vivo e em contato nesta duna.
Despentes, em Mutantes, demonstra sua “erudição” em matéria de contraculturas e outsiders, mas também atua como socióloga e escutadeira, cheia de empatia: conversa com sex workers e explora o ramo literário excêntrico, as memórias de prostitutas, escritas em primeira pessoa, muitas vezes num processo diário de descrever as agruras e delícias da profissão. É o caso da autora de Unrepentant Whore, Scarlot Harlot. É isto que ofende tanto na obra de Virginie Despentes: ela dá voz e visibilidade à esta gente sexualmente estranha, dissidentes do cis-tema que sempre se esforça por silenciar ou massacrar o que destoa de sua rígida norma.
MUTANTES – Punk Porn Feminism (2009), direção de Virginie Despentes.
“Is pornography an acceptable form of expression – and if so, can distinctions be drawn between different forms of pornography? This documentary raises all of these questions, seeking to provide the answers from the perspective of pro-sex feminism, which asserts that pornography must be wrested from patriarchal control, and that in the hands of women and sexual minorities, it can become a tool of liberation. Director Virginie Despentes (Baise-moi) takes a wide ranging look at the movement and maps the evolution of pro-sex, or “post-porn”, from its pioneers like Annie Sprinkle to newer European work like Emilie Jouvet’s Too Much Pussy!
Filled with roughly two dozen interviews with the likes of B. Ruby Rich, Lydia Lunch, Annie Sprinkle, Catherine Breillat, Del La Grace Volcano, Maria Beatty, Coralie Trinh Thi, Carol Queen, Lynnee Breedlove, Norma Jean Almodovar, and other members of the post-porn movement, Mutantes is part of a very queer feminist revolution. Exploring in comprehensive fashion the various sexual niches of punk porn, queer porn, S&M, and transgender, the film goes a long way toward demystifying a movement that has been several decades in the making.”
Publicado em: 23/06/20
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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